A Rosa é Sem Porquê

Escrito ousado este, do último místico alemão, na confluência de várias correntes religiosas, ponto de chegada da mística medieval de toda a Europa e da espiritualidade protestante hete­rodoxa dos séculos XVI e XVII, e ponto de partida para uma re­novação da vida interior, esse pietismo de que se inspirou ele e em que o seu efeito se pro­longa. De facto, Angelus Silesius é introduzido nos círculos místicos luteranos de tendência esotéri­ca, em que domina a figura de Franckenberg, e onde ele des­cobre o género literário original que ilustrará no Wandersmann. Trata-se de aforismos ou provér­bios em versos de doze pés, pequenos dísticos — epigramas ri­mados em que se condensa uma grande sabedoria espiritual. Marcado pela voga alquimista, pelo pietismo, e pela especula­ção metafísica em que, por exemplo, a relação da alma com Deus se faz de modo imediato (sine medio), tema que se pres­ta a um vivo debate entre os teólogos, no meio do século XII, em Paris, e que se inscreve contra a teoria, então crescente, da re­presentação que é forçosamen­te mediata…