Traços – Ensaios de Crítica da Cultura

A cultura contemporânea é cada vez mais fragmentária e, ao mesmo tempo, crescentemente englobalizadora. Característica da modernidade era já, como dizia Pascal, que todos «estamos no mesmo barco», sem que ninguém consiga ficar de fora, alhear-se, acolhendo-se em margem segura. Actualmente, quando se começa a falar demasiado ambiguamente de globalização, as coisas estão a tornar-se mais explícitas. Desaparecem as distâncias que permitiam que o teórico ou o analista ficassem incólumes perante «objecto», estando-se a impor formas de relação ao «real» caracterizadas pela «imersão total» na ordem das coisas vigente. A dificuldade cresce quando novos «objectos» vão surgindo, cada vez mais imateriais, produzidos como são pelo aparato técnico. Mistura-se num nexo enigmático, os corpos e as imagens, as mercadorias e os sujeitos, os desejos e as práticas. Tudo isso exige um outro olhar, atento aos sinais da cultura, que é exercitado em Traços — Ensaios da Crítica da Cultura. Este livro dá conta da tentativa de reflectir sobre os sinais em que o tempo da história se instabiliza, em que se reencenam os dramas da cultura e, finalmente, em que emerge a possibilidade de uma outra política. O que passa por «traços» que assinalam uma urgência, mas também a contingência com que irrompem e, acima de tudo, com que são recebidos pelo autor.