Pantagruel

Descrição

«Foi pelas marés de 1966, quando, deletrando-o, muito embora já treinado pelo comércio com o espírito de Mestre Alcofribas, (o qual tem resistido a todas as vicissitudes da História, como, ainda hoje, bem o prova o semanário satírico Le Canard Enchaîné que me tem ensinado a arte da contrapèterie, do calembour; do verlan, do javanais, do louchebème, etc.) — Júlio Pomar se lembrou de fazermos esta edição. Devo tê-lo encarado como se me propusesse verter para português uma das dezenas de línguas da península industânica! Pôr Rabelais em português, quando os próprios franceses não lhe metem o dente, a não ser por meio de traduções em francês de hoje?! O Pomar estava a brincar comigo! Claro, ele, com o seu enorme talento, bastava-lhe pegar no pincel e zaz, catrapaz, zazpaz, saía-lhe, e sai-lhe, um desenho ou uma pintura que é de um homem ficar de boca aberta! (…) Não, não se pode traduzir Rabelais para português! De ver é que, com a tradução em francês moderno na frente (o linguajar de Villehardouin e de Froissard pouco tem a ver com a língua francesa dos tempos que correm), um tradutor porá em português o relato das aventuras de Gargantua, de Pantagruel, de Panurge, etc., mas não conseguirá penetrar no matagal pitoresco, truculento, grosseiro — rabelaisiano! — dos Cinco Livros que são um dos monumentos da Literatura Universal! Seja como for, com ou sem acertos, respondi a Pomar: — ‘Mãos à obra!’» — Jorge Reis