50 Anos do 25 de Abril
No quinquagésimo aniversário do 25 de Abril de 1974, o dia que restituiu a liberdade aos portugueses, a Nova Vega vem relembrar aos seus leitores alguns livros já publicados que dão a conhecer o clima de tensão social e política que precedeu a Revolução e a repercussão que ela teve nos territórios ultramarinos — sua independência e descolonização.
Liderada pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), a Revolução dos Cravos conseguiu pôr fim ao regime do Estado Novo e a mais de 40 anos de ditadura. Porém, algumas das primeiras decisões políticas da jovem democracia portuguesa não foram pacíficas e consensuais. A mais impactante de todas foi a descolonização, apressada e mal planeada, que, contrariamente ao seu propósito, acabou por minar o futuro de alguns países que há muito reivindicavam a sua independência.
As sugestões de leitura aqui apresentadas dão a conhecer várias perspectivas desse período marcante da nossa história contemporânea. São pequenos contributos, sob a forma de testemunho, investigação histórica e narrativa ficcional, para uma memória colectiva marcada pela inquietação, tragédia e privação dos direitos fundamentais.
A Borboleta na Gaiola
Luís Filipe Costa
Escrito em “lisboeta”, A Borboleta na Gaiola recria, ao estilo do realismo cinematográfico, um certo território citadino: o microcosmos da esquerda no ano que antecede a Revolução, que se arrasta pela noite numa forma peculiar de querer gostar da vida e de fazer a mudança. Vistosa, como a borboleta, esta gente não produz, porém, um único som que incomode verdadeiramente o poder. Isso é para os pássaros canoros, os autênticos revolucionários, que estão ausentes deste romance. Todavia, acaba também privada de voo. Publicado pela primeira vez em 1984, e adaptado ao cinema pelo próprio autor, foi reeditado já neste século por manter uma actualidade desconcertante.
A Noite é um Olho
José Jorge Letria
Filho pródigo à casa retorna, segundo reza o adágio. Este retorna atrasado, filho ingrato que não enterra pai nem mãe, ave migratória que rumou a outras paragens fugindo da «pátria madrasta», amada e odiada, e acaba a evocar memórias de amigos, amores, familiares, de camaradagem e de guerra, ruminando o sentimento da perda e das outras dimensões do possível numa noite escura prenhe de fantasmas especulares. O olho é o símbolo das visões, tão presentes e perdidas e inalcançáveis, que serão cristalizadas através do dom poético de que o protagonista é dotado e espelhadas na trama. Até na guerra colonial, onde ignobilmente se acha caído, se volve amanuense de contingência, redactor aprumado das cartas que os camaradas enviam aos seus amores. Este, em suma, o tema do romance A Noite é Um Olho que tem por cenário uma época de aspirações idealistas contra um Portugal salazarento, terreno propício para confrarias entre trovadores inconformados como Zé Mário Branco, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, e outros, quando se procuravam modelos para a revolução intestina, fosse em Moscovo, Tirana ou Pequim, e se demandava a imensa arca perdida da Liberdade.
1975 Na Primeira Pessoa
Lobito. Uma Cidade com Estórias por Contar
Manuela Amoedo
Revisitação do êxodo que teve lugar em 1975, quando milhares de portugueses, nascidos e residentes em Angola, se viram coagidos a abandonar esse país por via da guerra civil, este livro de Manuela Amoedo reúne um conjunto de narrativas reais que traduzem o drama e a tragédia que esse êxodo constituiu para muitas dessas famílias, incluindo a dela própria, por de forma abrupta se virem condenados a fugir deixando para trás todas as suas referências e os haveres e trabalho de uma vida inteira. Segundo o prefaciador, Miguel Real, “são recordações tormentosas da existência pessoal de que o historiador, ponderado, não se pode alhear. São, por assim dizer, a seiva biográfica do tempo”. O livro é ainda valorizado com um apêndice repleto de fotografias do Lobito tiradas pelo seu melhor fotógrafo que foi Francisco Jorge Esperança Júnior (Quitos).
O Adeus ao Império
40 Anos de Descolonização Portuguesa
Organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro
e Pedro Aires Oliveira
Quarenta anos volvidos sobre processos e acontecimentos que tiveram um impacto estruturante, quer no Portugal democrático, quer nas nações que dele emergiram, e que pelo caminho cruzaram muitas esperanças com não poucos traumas, é tempo de fazer não apenas um balanço crítico, mas, sobretudo, de contribuir para aumentar a compreensão do fenómeno complexo que foi a descolonização portuguesa. É este o desafio que O Adeus ao Império tenta concretizar: oferecer ao público um conjunto de ensaios que permita situar o problema da descolonização de forma menos emotiva, dando ao mesmo tempo conta dos avanços que a investigação histórica tem produzido.